Márcio Caires
“Peço permissão aos ancestrais
desta terra, às Guaibins, velhas guardiãs do conhecimento, para tecer alguns
comentários sobre a situação de guerra vivida pelo povo Tupinambá. Um dia minha
avó me veio em sonho e contou a sua história, uma descendente de índia caçada a
dente de cachorro no mato. Anos depois, li uma frase do antropólogo Darcy
Ribeiro: “O Brasil nasceu fruto da violência”.
A nossa história escrita pelos
mestres acadêmicos colonizadores, ensinada dia-a-dia a alunos enfileirados em
quatro paredes das escolas públicas e privadas do Brasil, afirma que o Brasil
foi “descoberto” pelos portugueses. Mas o que dizem os povos que aqui viviam?
Nadia Akauã, uma índia Tupinambá de Olivença, que se apresenta como uma
Mbo’esara, uma educadora indígena, iniciada nos saberes das ervas e da cura
pela sua mãe, que aprendeu com a sua avó, vê de forma diferente esta história:
“o que aconteceu foi uma invasão da nossa terra pelos colonizadores europeus,
junto com um grande genocídio dos nossos parentes, que continua até hoje de
outras formas, principalmente com a força da mídia. Não estamos somente lutando
pela terra, mas também para sermos considerados nos planos de governo, como
garante o artigo 231 da Constituição Federal“.
Então a Fundação Nacional do Índio
(Funai), no ano de 2002, mais de 500 anos depois, reconhece a legitimidade das
terras do povo Tupinambá, mas até hoje não foram finalizados os trâmites
burocráticos do processo de regulamentação. Enquanto isso, em setembro de 2013,
em torno de 513 anos depois da chegada dos colonizadores, uma guerra violenta
ainda põe em risco vidas de famílias pelo fato de reivindicarem o direito à
terra dos seus ancestrais. É lamentável a morosidade do estado na mediação
deste conflito. Precisamos de urgência numa solução desta questão. Esta
agressão aos Tupinambás fere também a nossa identidade”.
Márcio Caires, presidente do
Conselho Estadual de Cultura da Bahia (CEC) e presidente do Fórum Nacional dos
Conselhos Estaduais de Cultura do Brasil (ConECta).
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